Em mais pressão contra a Repsol, Argentina retira duas concessões


O governador da Província de Chubut, na região da Patagônia da Argentina, Martín Buzzi, anunciou ontem a retirada de duas concessões de exploração de petróleo da YPF, empresa controlado pela espanhola Repsol. O anúncio foi feito em um comício para 25 mil pessoas na cidade de Caleta Olívia, na divisa com a Província de Santa Cruz, reduto político da presidente Cristina Kirchner. Durante o ato, o governador de Santa Cruz, Daniel Peralta, prometeu também retirar uma concessão da YPF.
Na Argentina, as concessões de explorações pertencem aos governos provinciais, e não ao governo nacional. Mas a presença do secretário nacional de Energia no ato, Daniel Cameron, marcou o apoio de Cristina à medida.
O ato de Buzzi determina que a YPF terá que se retirar das áreas de El Trebol e Cañadon Perdido dentro de 90 dias. A perda das concessões afeta apenas 3% da produção da empresa, que em 2011 foi de 11,251 milhões de metros cúbicos, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Energia. Em Chubut, segue intocada a concessão do maior campo da empresa, o de Manantiales Behr, que produz 1 milhão de metros cúbicos anuais.
A medida é assim mais um ato na pressão do governo argentino para que a YPF acelere os seus investimentos no país, que tem um déficit crescente de energia.
Caso Santa Cruz também retire concessões, a empresa de controle espanhol poderá ficar ameaçada. Da Província de Cristina sai 24% da produção da YPF. Uma terceira Província, a de Neuquén, ameaçou seguir o caminho de Chubut, o que pode atingir a Petrobras. A petroleira brasileira não registrou produção em Chubut no ano passado, mas 18% de sua produção no país está em Santa Cruz e 36% em Neuquén. Em 2011, a Petrobras produziu no país 2,256 milhões de metros cúbicos.
A YPF divulgou nota logo após o anúncio em que afirmou que iria tomar "medidas legais e judiciais para defender seus direitos". Em documento divulgado na semana passada, a YPF alegou que os investimentos estavam abaixo do desejado pela Província em oito campos controlados por outras empresas, mas apenas os seus estavam sendo atingidos, o que violaria a garantia constitucional de isonomia. Segundo a empresa, US$ 350 milhões foram investidos na Província no ano passado.

Cristina pediu que Petrobras aumente presença na Argentina, diz Lobão
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu a ele que a Petrobras aumente sua presença no mercado de seu país. "A presidente pediu uma presença mais forte, mais intensa da Petrobras aqui. E presença mais forte tem que ser com investimentos", afirmou Lobão. Ele disse que essa presença maior poderia ocorrer, por exemplo, por meio de rede de postos de gasolina ou da exploração de gás não convencional na Província de Neuquén, na Patagônia.
As declarações foram feitas na embaixada do Brasil em Buenos Aires, poucos dias após a presidente ter criticado a "falta de investimentos" das petrolíferas estrangeiras instaladas no país. Recentemente, a Petrobras vendeu sua rede de postos, como já era previsto em seus planos de investimentos, como afirmaram assessores da companhia em Buenos Aires. Lobão sugeriu que estas decisões podem ser revistas pela empresa brasileira. "Mas (a Petrobras) pode voltar a atuar (na área de postos de gasolina). Nós não fizemos isso com a Bolívia, por exemplo? (A Petrobras) reduziu (sua presença) e depois voltou a investir na Bolívia", disse.
O pedido de Cristina a Lobão foi feito no momento em que surgem informações de que o governo argentino estaria travando uma disputa com a petrolífera espanhola-argentina Repsol-YPF, a maior do país. A petrolífera recebeu multa milionária em fevereiro devido a dívidas com o fisco, e teria descoberto gás não convencional na bacia de Neuquén, mas sem realizar sua exploração, segundo autoridades do governo.
A empresa nega as acusações. Segundo a imprensa argentina, o rei Juan Carlos teria ligado para a presidente, na semana passada, pedindo que os investimentos da petrolífera não fossem afetados, em meio a rumores de nacionalização da Repsol-YPF, como publicaram os jornais Clarín e La Nación, de Buenos Aires.
Lobão negou o pedido de Cristina possa estar vinculado a esta relação com aEspanha e a Repsol-YPF. Questionado se a Petrobras poderia chegar a ocupar o espaço deixado pela petrolífera espanhola-argentina, o ministro respondeu: "Não sei, essa é uma hipótese que depois será vista pela Petrobras. Acho que o fundamental é o desejo (da presidente) da presença mais forte aqui. O resto é detalhe".

Fonte: Marcia Carmo, BBC Brasil/Nicomex Notícias, março/12
  
Fonte: Valor Econômico/Portal Naval

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